Os quilombos eram comunidades formadas por africanos escravizados e seus descendentes. Essas comunidades eram formadas por escravos que fugiam da escravidão, sendo um local onde viviam em liberdade e resistiam à escravidão. Nos quilombos não viviam apenas africanos escravizados, mas também índios e brancos livres.
Nossa
História
O Quilombo de Bongaba – Quilombá – é uma comunidade remanescente de quilombo localizada no 6° Distrito do município de Magé, também conhecido como Vila Inhomirim, próximo à Piabetá.
Histórico
Sua origem remonta ao século XVII, mais especificamente ao ano de 1.696, quando foi iniciada a construção da Igreja de Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim. Portanto, a origem do bairro Bongaba está diretamente ligada a este marco histórico. Mas, principalmente ao grande contingente de população negra na localidade, ali estabelecida compulsoriamente pelo processo escravista desde o primeiro século da colonização, tendo em vista a atividade rural predominante no município e na região desde o tempo das sesmarias até o século XIX com a abolição da escravatura. Após a abolição, parte dessa população se manteve na região em pequenas propriedades rurais, fortemente ligada à agricultura doméstica. No entanto, a partir da segunda metade do século XIX a região passou por mudanças na sua configuração populacional a partir da inauguração do entroncamento da linha férrea entre o Porto de Mauá e Petrópolis. Considera-se que o nome Bongaba tornou-se oficial em 1926, passando a batizar o nome da estação ferroviária local, hoje desativada.
Infelizmente, Bongaba entrou em decadência antes de conhecer seu apogeu. Pois, na década de 70 do século XX, uma grande área do bairro foi transformada em lixão, passando a receber toneladas diárias de detritos de diversas localidades. Dessa forma, o caráter comunitário, baseado na agricultura doméstica das famílias de descendentes de africanos escravizados da região, foi sendo desfigurado. Pois, as atividades econômicas da população local passaram a orbitar em torno do lixão. Passando a ser uma fonte de renda através da reciclagem, a despeito de não haver uma cooperativa organizada; mas também, uma fonte de alimentos obtidos entre os detritos.
Contexto atual
A partir do aprofundamento das condições de miséria e exclusão de serviços públicos, acesso a educação e cultura, produziu-se um abismo social e um esfacelamento da identidade negra e quilombola entre os moradores da localidade. Seja pelo êxodo para município com melhores oportunidades de trabalho, pela marginalização, pela disseminação de valores hegemônicos pela mídia ou pela conversão às religiões cristãs, que promovem um afastamento da cultura ancestral de matriz africana.
O resgate das origens quilombolas
O trabalho fundamental da Associação do Quilombo Quilombá consiste em resgatar o pertencimento e a identidade quilombola da comunidade negra e descendentes de Bongaba. Trata-se de um árduo processo de resgate histórico e da memória do passado quilombola da região. Há uma enorme distância entre saber que existe na localidade um passado como quilombo e reconhecer o quilombo como algo de alto e grande valor. Algo a ser valorizado e resgatado.
A conquista do reconhecimento
O Quilombo Quilombá foi reconhecido há dois anos pela Associação dos Quilombos do Estado do Rio de Janeiro, marcando uma vitória fundamental para a população quilombola passe a ter acesso a direitos enquanto comunidade tradicional previstas em lei, assim como questões de garantias sobre a posse da terra e a preservação da sua cultura e tradições.
O Quilombo Quilombá e a tradição religiosa afro-brasileira
O Quilombo Quilombá tem a condição singular de ser uma comunidade com um terreiro tradicional de matriz africana – o Ilê Axé Ogun Alakoro - estabelecido em seu território. Então, há uma dupla legitimidade como lugar de resistência e acolhimento de todos os excluídos pelo sistema.
O terreiro tem tido o papel estratégico em ser a sede da Associação do Quilombo de Bongaba, além de ser o espaço de articulação política da comunidade local e das iniciativas sociedade civil em construir um projeto positivo junto à população quilombola. Tal perspectiva é atravessada por uma visão filosófica que nos coloca como espaço civilizatório, transformador e de combate ao racismo e de toda forma de violência social, de estado, física e simbólica contra as populações negras. Isso significa que todos os conceitos religiosos, educacionais, culturais, etc, são fundados por uma visão de mundo vinda da ancestralidade africana.
Nesse contexto, podemos pensar em duas perspectivas: O quilombo é resistência. A condição de comunidade terreiro faz de nós um quilombo. Porque somos historicamente um lugar de resistência. Candomblé é resistência.